quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Serviço de Mesa




- Calabresa ou brócolis, senhor?
- Pode deixar que eu me sirvo, obrigado.
- De maneira alguma senhor, estou aqui para isso.
- Mas está tudo bem, mesmo. Você tem mais mesas para atender e eu sei como me servir sozinho, não precisa se preocupar.
- Senhor, é para isso que eu sou pago, para servir. Agora me passe o prato e diga o sabor, por gentileza.
(pausa)
- Rúcula.
- O senhor pediu brócolis e calabresa, senhor.
- Não, pedi rúcula.
- Mas o pedido que eu anotei não falava nada sobre rúcula... senhor.
- Você não está aqui para servir?
- Claro, senhor.
- Pois bem, agora estou pedindo um pedaço de rúcula.
- Quer uma pizza de rúcula senhor?
- Não, quero uma fatia de pizza de rúcula.
- Mas o senhor não pediu uma pizza de rúcula da qual eu possa tirar uma fatia de pizza de rúcula, senhor.
- E para que você está aqui, então?
- Para servir o senhor.
- Pois se está aqui para me servir também precisa ser capaz de fazer algo que não consigo. Trate de abrir aquela tampa e me servir um pedaço de rúcula.
- Mas senhor, isso é impossível!
- E o que é possível então?
- Um pedaço de calabresa ou brócolis, senhor.
- Sabe amarrar cadarços?
- Sei sim senhor.
- Pode amarrar para mim?
- Claro, senhor. (amarra)
- Calabresa por favor. (serve) Pode me ajudar a comer?
- A comer, senhor?
- Sim, a comer. Corte para mim.
- Pois não, senhor. (corta)
- Ah (abre a boca)
- O... senhor...
- Vamos, estou com fome! (abre mais a boca. o garçom coloca o primeiro pedaço na boca do cliente. cliente leva muito tempo mastigando e se deliciando com a pizza enquanto o garçom espera com o outro pedaço no garfo. em dado momento o garçom se cansa da espera, ele tem outras mesas que o esperam)
- O senhor não consegue comer sozinho, senhor?
- Consigo. Qual é o seu nome?
- Sérgio, senhor.
- Sérgio Senhor?
- Não. Sérgio, senhor. Mas por que o senhor precisa da minha ajuda para comer, senhor?
- Eu não preciso da sua ajuda para comer. Você está aqui para me servir e está sendo pago por isso, então quero que me alimente, só isso.
- Mas o senhor pode comer sozinho, senhor.
- Também posso pegar um pedaço de pizza e colocar no meu prato sozinho. Mais um pedaço. (abre a boca)
- (dando mais um pedaço) Mas um garçom não põe comida na boca dos clientes, senhor. As pessoas devem comer por elas mesmas.
- Desamarrou meu cadarço Sérgio Senhor.
- (amarrando-os) É Sérgio, senhor.
- (ignorando) Por que é que as pessoas devem comer por elas mesmas se elas estão pagando para serem servidas? Isso não faz sentido.
- Não senhor.
- Concorda comigo?
- Sim senhor.
- Sujei meu queixo. (sérgio pega o guardanapo do colo do cliente e limpa seu queixo. continua dando-o pedaços de pizza) Sabe, quando estava vindo para cá perdi o meu celular, será que pode me dar o seu?
- Meu celular, senhor?
- Seu sobrenome é igual ao sobrenome do seu celular?
- Meu sobrenome é Razzo, senhor.
- Nunca vi igual... o celular.
- Claro. (tira o celular do bolso e da para o cliente)
- Então não serve, minha mulher só tem Vivo. Você tem mulher?
- Está no caixa, senhor.
- A que horas ela sai do serviço?
- Está saindo agora mesmo, senhor.
- Diga a ela que se troque para viajem. Embrulhe o resto da pizza para viajem também.
- Agora mesmo, senhor. (sai para falar com a mulher. Cliente se prepara para sair, pega a carteira do bolso traseiro da calça, olha e a guarda de volta. Levanta em algum momento para esperar)
- (Sérgio volta com a mulher usando um vestido vermelho e com a pizza na mão) Acho que perdi minha carteira também. Pode pagar para mim?
- Seria um prazer, senhor.
- (passando o braço pela cintura da mulher de Sérgio) Pode incluir os dez por cento Sérgio, adorei o serviço. E fique com a pizza.
- Obrigado senhor, e volte sempre! (cliente sai com a mulher de Sérgio. Sérgio sorri cordial no centro do palco enquanto luzes diminuem)