sábado, 24 de julho de 2010

Vício de Louco

O pensamento é algo tão variável.

Sorte que os Loucos da geração anterior deixaram material para lembrarmos que também somos pessoas normais, com a pequena diferença de que a vida não nos faz sentido sem prazer.

E com mais uma pequena diferença de que os nossos prazeres mais sublimes se encontram em geral nos lugares mais desvalorizados pelo senso comum. Em lugares que podem parecer ridículos e sem sentido para os sãos.

E com mais uma terceira. Se não ganharmos a vida praticando prazer, então não vivemos. Tudo perde o sentido. Somos os maiores criadores. Mas somos também os criadores mais fáceis de se derrubar. Basta tirar-nos o prazer e não restam armas para lutar.

Tire o que me pertence. Mas não tire o que me motiva.

Os maiores prazeres são os que podem ser diretamente assimilados pelos sentidos.

terça-feira, 1 de junho de 2010

E o mais triste...



E o mais triste é que amanhã acordaremos. E que seremos os mesmos hipócritas de sempre. Porque não há vida em sociedade sem a hipocrisia. E é hipócrita aquele que negá-lo.

E o mais triste é que amanhã acordaremos. E que seremos os mesmos hipócritas de sempre. Porque não há meio de sermos cem por cento espontâneos sem que as pessoas fujam de medo de nosso subtexto oculto. E hipócrita é aquele que negá-lo.

E o mais triste é que amanhã acordaremos. E que seremos os mesmos hipócritas de sempre. Porque uma vez em nossa infantil ingenuidade quando tentamos ser espontâneos e dizer ao outro o que realmente sentiamos, descobrimos da pior forma possível que esta é a pior forma possível de se aproximar de alguém.

Descobrimos da pior forma possível que o ser humano é um jogador. Porque se não formos atraídos para uma armadilha, logo veremos que somos presa. E fugiremos de medo. Saberemos a resposta para o enigma. E fugiremos de orgulho. Porque o ser humano é um jogador. E hipócrita é aquele que negá-lo.

....

E o mais triste é que amanhã acordaremos.

segunda-feira, 10 de maio de 2010

Faz frio em São Paulo. Vou beber, fumar e cantar. Até que o vizinho reclame do barulho no 908.




Faz frio em São Paulo. A cidade acontece em camera lenta. Os batimentos cardíacos duram minutos. O sangue não da conta. O corpo está frio. Mais frio. A ponto de os faróis dos carros aquecerem a pequena São Paulo. E ainda faz frio.
Os olhares se demoram mais do que de costume nos olhos dos outros. Minha expressão já não me incomoda - pensem o que quiserem.

- Dois e setenta.

A passagem está cara.
O mundo lá fora se demora, os faróis se misturam. Chego em minha parada. A loja 24h do posto me chama atençao. Eu havia prometido a mim mesmo não gastar mais dinheiro para deixar álcool estocado, temporariamente, em casa.

- Quarenta e quatro e setenta.

Quase interferi no valor final mas lembrei que já tinha cigarro no bolso de uma jaqueta em casa. Não fumava já há um bom tempo. Tudo era muito lento. Mas ainda assim, não senti que levei mais de meio segundo para chegar em casa.
Está gelado. Minha cabeça nega qualquer som que tente penetrar. Se entra alguma imagem, passa direto para o esquecimento. O mundo todo passa diante de mim. Estou em suspensão.

Tudo o que tem alguma relação com profundidade é automaticamente bloqueado. Doce engano de um jovem poeta. Sempre escrevendo sobre o amor. Sempre tentando decifrá-lo, sempre. Para isso basta que esteja à margem. É só mergulhar para que o mais gélido inverno faça-o lembrar. O amor não é para ele. O amor é para quem não pensa sobre isso. Quem pensa acaba chegando à trágica conclusão de que a melhor parte deste é a sua idealização. Quando ele acontece, tudo cai por terra.
E quanto à profundidade? Ha-ha... ninguém mais quer esse lixo. Liberdade, independência e auto suficiência estão na ordem do dia. Idiotas somos nós, que vivemos buscando no futuro um tipo de relação que só existe no passado sendo, portando, utópica. A relação de hoje dispensa a relação. Basta o momento.

- Meia noite.

Bruce é o único que consegue manter uma relação, qualquer que seja ela, por mais de alguns momentos. Ele não existe. É fruto da minha imaginação. E isso o torna tão real quanto os que, sem existir, vagam por ai.

- Um cigarro.

Ele não disse isso, mas é o que vejo vindo da boca de um morador de um apartamento próximo. Vejo sua silhueta de longe, jogando um filtro em brasa pela janela, fazendo um convite para a fria noite que vem. Uma cerveja.

November Rain - Guns N'Roses