terça-feira, 23 de agosto de 2011

10:10

Certa noite, há pouco mais de um ano atrás, tive um sonho que não só me marcou como marcou uma transição definitiva no meu modo de pensar.

Antes de dormir combinei com meu pai que ele passaria em casa para me buscar as 10h da manhã do dia seguinte. Fui dormir e sonhei.

Sonhei que, no dia seguinte, acordei atrasado, 9:50h da manhã. Corri para o chuveiro e tomei - dentro do meu conceito - um banho rápido de cerca de dez minutos. Sai do chuveiro, me enxuguei, escovei os dentes, corri pela casa em busca de uma roupa que me agradasse, parte no armário, parte no varal. Fui me pentear e, neste dia em especial, meus cabelos resolveram demorar a aceitar uma forma minimamente civilizada.

Quando consegui algo próximo ao aceitável me apressei em colocar as meias e sentei-me no sofá da sala para calçar um par de tênis. Nesse instante, olhei para o relógio na parede ao lado que marcava 10:10h. Pensei aliviado que ele estava atrasado. Eu já estava pronto e agora só restava esperar. Respirei, aproveitei o tempo extra para brigar um pouco mais com o cabelo e dar uma fuçada na internet, sempre com o celular em mãos, preparado para parecer que eu estava preparado desde a hora marcada.

Cansado de matar o tempo livre, sentei-me novamente no sofá da sala para esperar e olhei o relógio de parede: 10:19h... quando é que ele chega? Vou dar mais um tempo e ligar. E então o celular toca, olho no relógio de parede antes de atender, 10:20h.

 - Alou... - digo simulando uma voz mais aguda, diferente da voz grave de quem acabou de acordar.

 - Pode descer que eu já to chegando na sua rua - diz ele. Desliguei o celular e acordei do sonho.

Como de costume, acordei atrasado, 9:50h da manhã. Corri para o chuveiro e tomei - dentro do meu conceito - um banho rápido de cerca de dez minutos. Sai do chuveiro, me enxuguei, escovei os dentes, corri pela casa em busca de uma roupa que me agradasse, parte no armário, parte no varal. Fui me pentear e, nesse dia em especial, meus cabelos resolveram demorar a aceitar uma forma minimamente civilizada.

Quando consegui algo próximo ao aceitável me apressei em colocar as meias e sentei-me no sofá da sala para calçar um par de tênis. Nesse instante, olhei para o relógio na parede ao lado que marcava 10:10h...

 - Impossível... - em um segundo veio à minha cabeça a lebrança de todo aquele sonho que acabara de ter. Até então não me lembrava dele - acordei daquele jeito meio capenga, meio com pressa que sempre tira da cabeça da gente qualquer sonho, instantaneamente. E no segundo seguinte eu tinha, não a sensação, mas a certeza mais absoluta e profunda que se pode ter de que meu celular tocaria em exatos dez minutos. Eu já estava pronto e agora só restava esperar.

 - Idiota, você deve estar delirando - disse a mim mesmo, mas fracassei na tentativa de abalar minha certeza naquilo que estava para acontecer. E então, por algum motivo desses que não me atrevo a tentar deduzir qual, minha mente bloqueou esse pensamento, o do sonho.

Levantei-me do sofá, respirei. Aproveitei o tempo extra para brigar um pouco mais com o cabelo e dar uma fuçada na internet, sempre com o celular em mãos, preparado para parecer que eu estava preparado desde a hora marcada. Cansado de matar o tempo livre, sentei-me novamente no sofá da sala para esperar e olhei o relógio de parede: 10:19h...

 - Porra! - Me arrepiei por inteiro diante do susto que me provocou a súbita retomada da lembrança daquele sonho. Fiquei ali, sentado. Congelado com o celular em mãos, diante da certeza do que viria a seguir. Era uma sensação estranha: ao mesmo tempo que estava aflito e paralisado com aquela incontrolável soberania sobre o tempo, sentia-me poderoso.

Hesitei por algum tempo em olhar o relógio. Olhei. O tempo parecia que não passava, 10:19h: cinquenta e quatro, cinquenta e cinco, cinquenta e seis, cinquenta e sete, cinquenta e oito, cinquenta e nove.... 10:20h, o celular toca:

 - Alou... - digo simulando uma voz mais aguda, diferente da voz grave de quem acabou de acordar.

 - Pode descer que eu já to chegando na sua rua.

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Um homem saiu na rua, virou a esquina e tomou dois tiros na cabeça. Seu filho recebeu a notícia, saiu correndo, tropeçou e caiu de uma ponte. Morreu. A mulher que assistia se assustou. Enfartou. Morreu. O cachorrinho da senhora saiu correndo. Foi atropelado. Morreu. O carro que tentou desviar bateu na porta de um outro que vinha cruzando. Capotou três vezes. Morreu e matou o motorista do outro carro. Um chinês morreu. Não sei porque, mas com certeza um chinês morreu neste minuto. Um avião caiu. Todos morreram. Ele caiu no centro de São Paulo. Várias pessoas morreram também. Várias pessoas receberam a notícia das mortes. Várias enfartaram. Muitas se mataram. Algumas se revoltaram e saíram na rua atirando. A polícia não gostou. Saiu atirando também. A população se revoltou e começou a matar policiais e civis com tacos de basebol, canivetes, pedaços de pau, flechas envenenadas, lanças, arpões de pesca, pás, garrafas de vinho quebradas, alicates, cortadores de unha, vassouras, cadeiras, serras elétricas, mordidas. A notícia foi se espalhando e o mundo inteiro se matou. Acabou a raça humana. Fim.