domingo, 19 de junho de 2011

Amor

Estou no quase há quase muitos anos. Quase fui o primeiro da classe, quase ganhei aquela aposta, quase passei no curso que queria, quase consegui, quase conquistei, quase falei o que queria ter falado, quase fiz o que queria ter feito. Quase escrevi um texto que não falasse de amor... quase.

De tantos quases se fez minha vida que o coração já acostumou a bater convulsivamente quando me coloco um novo objetivo, que as mãos já tremem e transpiram mais do que o normal, que bato o cigarro mais vezes do que pisca uma árvore de natal no período de um minuto, que os intestínos protestam ferozmente, os olhos e os dedos e a boca ganham tíques inéditos, e os ombros travam e a coluna fica estática negando comunicação com os pés, reduzindo-me apenas à física do meu corpo que não se afasta mais que alguns poucos centímentros da região à qual atribuímos a consciência. O corpo retraído, a cabeça baixa, os olhos fundos, as vontades caladas, medo...

Quase virei ator desta vez. Foi por muito pouco, mesmo. Dizem que até o fim da vida nós sempre nos esforçaremos para quebrar a mesma pedra... sempre a mesma pedra. E grande parte desta pedra nos foi dada sem que pudessemos escolher, ainda mais para alguém com vinte e poucos anos de idade, criado embaixo de longas asas. Depois nós vamos acrescentando mais e mais matéria à nossa pedra para quebrarmos mais tarde, mas da pedra que tenho hoje eu quase nada escolhi. E ainda assim, quase a quebrei.

Dizem que no final de um ciclo sempre vem o começo de um novo... e hoje eu não falei de amor.