segunda-feira, 23 de junho de 2025

Crise dos 40

 37 anos em alguns meses. Se eu morrer o mundo não sentirá falta. Não "acomplishei" nada relevante na minha vida até hoje. Todo o otimismo de 1 ano e pouco atrás se foi quando percebi que as metas nas quais eu tinha caído de cabeça eram muito mais complexas e difíceis do que eu imaginava a princípio. Ainda mais pra alguém que não está exatamente começando a vida e com todo o apoio do mundo. Minhas ideias a respeito do mundo mudam cada vez mais. Cada vez menos tenho tempo e empatia para pensar no outro. Ainda mais quando o outro me tira a oportunidade. Não tenho contato com meu pai há quase 10 anos e ele já fez sessentão. Corro o risco de ele morrer antes de conseguir estabelecer relações com ele novamente. Me entristece. Mesmo ele sendo a epítome do porco capitalista, mas que foi levado a isso pelas circunstâncias de vida, coitado, sinto uma profunda saudade. E isso porque sou testemunha de que seus esforços para me dar uma vida boa sempre foram os mais honestos e bem intencionados. Por algum motivo deu errado quando ele passou a achar saudável me lembrar toda vez que nos encontravamos que ele me via como "moleque", "vagabundo" e "egoista" - sim, eu, um cara na época com 20 e poucos anos, de quem espera-se nada mais do que infantilidade, egoísmo e falta de noção do valor do tempo. Em algum momento, me cansei. Curiosamente, coincidiu com o momento em que eu me via em um emprego que tinha tão pouco, mas tão pouco, mas tão pouco a ver comigo - embora tivesse medo demais de papai para não dize-lo que estava amando aquela experiência e que era uma ótima oportunidade para que eu aprendesse mais sobre a realidade do mercado de trabalho - que eu me pegava diariamente pensando, antes de sair para trabalhar, se valia mais a pena levantar, tomar um banho e sair para o mundo, ou se me jogava de uma vez da janela do nono andar e acabava de vez com aquele sofrimento.


Ninguém nunca soube disso.

"Breaking news". Quanta emoção.


Até mesmo a emoção parece que vai secando ao longo de uma vida de merda. Sim, é óbvio que era ironia.


Depois de uma certa idade parece que nada mais que você faz para recuperar o tempo perdido por erros ou desvios de caminho no passado surte efeito nenhum. Você já não tem mais a mesma energia, o mesmo sangue no olho, a mesma vontade de agradar e nem a mesma alegria de viver, por menor que ela fosse.


Hoje só me vejo como alguém que nunca mais verá o pai, por quem tanto foi humilhado mas de quem tanto gostou, porque o requisito para que pudesse voltar a faze-lo algum dia seria tornar-se enfim aquilo que o pai desejava que ele se tornasse: alguém independente, bem sucedido, empreendedor, prático e realista.


Obviamente não me passa nunca pela cabeça tomar a iniciativa pela reaproximação antes de alcançar todos esses objetivos perfeccionistas estúpidos - chega um momento na vida em que você não aguenta mais ser diariamente humilhado em silêncio. E agora, finalmente, começo a achar que não alcançá-los algum dia começa a ser uma possibilidade real.


A única alternativa possível seria que a pessoa 24 anos mais madura da relação tivesse a decência de assumir a postura de pessoa madura da relação e fazer o que tem que ser feito - - por amor? Isso existe mesmo? Já tenho muita dúvida hoje em dia, pra falar a real. -. Mas a verdade é que papai finalmente está bem. Sejamos sinceros: é óbvio que o alívio de não ter mais um porra pesando em seus ombros e o impedindo de alcançar o sonho de ter todo o dinheiro do mundo e poder finalmente enfiá-lo no cu é muito grande. Ninguém em sã consiência, tendo finalmente conseguido se livrar de um peso morto ao mandar uma mensagem de celular se passando por diplomático - que é uma desculpa ótima pra mentir pro próprio ego que ele fez o que pode - voltaria atrás para voltar a ter que assumir a respondabilidade pela cagada que fez. É mais cômodo acreditar que se vc passou 15 anos levando um merdinha ao McDonalds todo fim de semana e dos 16 aos 21 finalmente tentou começar a dar uma atenção real pra criar esse moleque, então a culpa dele ter tomado no cu grandão na vida foi dele, e não do fato de ele ter passado os primeiros 15 anos da vida sendo criado por duas criaturas com as mentes mais doentes que a humanidade já conseguiu criar e semi-abandonado pela única pessoa que teria alguma chance de ter passado valores reais a ele mas que tinha que trabalhar pra ficar rico. Sim, porque não vamos dar nomes, mas puta que pariu. Fui criado numa porra dum manicômio, essa é a verdade.


Acho que isso começou sendo sobre uma saudade impossível de ser curada por causa de excesso de orgulho por duas partes e acabou sendo um grande desabafo pra demonstrar toda a maturidade de um quase quarentanista jogando a culpa de todos os seus problemas do presente para outras pessoas. Enfim, esse blog nunca foi sobre a realidade do dia a dia - onde sempre acho que tudo, até o que é culpa dos outros, é culpa minha - nem sobre frases curtas. Ele é sobre o que eu sinto. E o que eu sinto é essa porra ai, nua e crua do jeitinho que saiu do coração. Um muro das lamentações completamente perdida num mundo onde tudo é exposto a todos, mas onde ninguém vê nada por excesso de informação.


Foda-se.