sábado, 1 de junho de 2024

Oi o/

 Não entendi o que aconteceu.


Parece que tropecei ali atrás. Cai, bati de cara no chão.


Ui!


Este que vos fala é uma criatura que não faz mais a menor ideia de quem é. Comparado com esse outro moço, que sempre escreveu por aqui, sinto-me um todo leigo. 


Não penso mais na vida, nas coisas e não viajo como esse louco ali do post de baixo. E do outro, e do outro.


E estranhamente sinto que, ao mesmo tempo, me conheço um oceano a mais. Dos grandes. Sei de tudo que abri mão pra chegar até aqui, neste tempo em que existo. Sei de todas as dores, todas as ações e todas as consequências, sei do futuro daquele louco ali do textão de baixo. 


Hoje parece fácil ver.


Zero a 5. Depois 6. E então 7 a 10, 11 a 14, 15, 16 a 18. Ai então 19 parte 1 e parte 2. Vinte aos 23, 24 a 27 e, finalmente, 28 aos 35, onde encontro-me agora. Esses números todos que você acabou de pular (eu teria feito o mesmo) porque não estavam te dizendo nada, são todos os períodos de idades em que separo os momentos da minha vida na minha memória.


Hoje parece fácil ver que dos 6 aos 14, depois dos 16 aos 18 e depois dos 19 e meio aos 23 foram os momentos mais felizes da minha vida. É fácil perceber também que o período dos 24 aos 27, que foi disparado o período de tempo mais horrível que eu poderia sonhar em viver, não só não durou tanto tempo assim (mesmo parecendo ter durado 10 anos) quanto foi a desgraça do tempo que mais impactou - e que ainda impacta minha vida - até cerca de 1 ano e meio atrás, quando finalmente percebi que posso voltar a querer ter uma vida. 


A vida é uma coisa louca, cara.


Escrevendo assim, botando minhas engrenagens da autoconsciência pra funcionar por esse velho porém bom amontoado de madeiras, pregos e memórias, por um momento bate até uma certa melancolia. Dá uma falsa sensação de que ainda tenho no peito essa velha sobra que andava arrastando em letras por aqui. Sinto-a um pouco, até. Confesso. Uma vez emo sempre emo, é verdade. Mas 35 anos é uma caminhada, cara! Hoje sinto minhas emoções e, por que não dizer, hormônios, um pouco mais sedimentados - e a "sofrência" já não fala mais tão alto. Muitas lutas desnecessárias foram abandonadas pelo coração e uma leve pontadinha da sabedoria da experiência de vida já parece começar a bater à porta.


Quem diria.


Parar de lutar contra o mundo e contra si mesmo fez bem, afinal. Eu acho.


Ficar quieto, ir atrás do que legitimamente quer fazer, aceitar o recomeço. Tudo culminou no presente. E, parece, no presente eu finalmente entendi quem eu sou, mas não porque eu me permito refletir sobre mim mesmo. Meu eu adolescente é que era excelente nisso, mesmo. Não porque tenho uma mente mais predisposta e aberta a me conhecer, mas porque conheci melhor a minha história e tudo aquilo que já fiz e já fui. As reações que tive às ações que me foram impostas.


E a história nos ensina sobre o presente.


Hoje, paradoxalmente, mesmo sentindo que tenho muito mais defesas e ressalvas em minha mente que me impedem de cutucar muito fundo pra descobrir mais sobre mim mesmo (eu sinceramente acho isso algo inteligente a se fazer até certo ponto) acabo, ainda assim, tendo a nítida sensação que me conheço muito melhor pela experiência de vida e pela visão com mais distanciamento de toda minha história pessoal. 


Não é louca essa parada? Hahaha..


Uma coisa que não mudou foi que quando eu canso do assunto ou da linha de raciocínio eu simplesmente largo mão e mudo abruptamente. Desistir é humano, não deixem te dizerem o contrário.


Aos 6 anos eu me mudei de escolinha e tive que fazer uma "prova de nivelamento" (que é o nome que eu acabei de inventar que essa prova tinha porque parece assustador, mas era uma dessas provinhas pra ver o quanto o aluno aprendeu da escola anterior pra ver em que ano botar ele) que foi uma das coisas mais assustadoras da minha vida. Mentira, acho que nem foi. Mas eu lembro que senti muito medo.


Acho que sempre fui assim. Me cobrava muito. E me cobro.


Mas não desse jeito que as pessoas falam pra passar na entrevista de emprego. De um jeito que faz mal mesmo sabe? Que da um enjôo, um suor frio, uma coisa física. Já sentiu? E muitas vezes é pra coisas super bobas, que depois que passa o tempo e você o quão bobas elas eram você percebe o quanto sofreu a toa.


Adorei a maneira que isso aqui caminhou. Pode ser que volte a escrever para ninguém em breve, achei terapêutico.


Pode ser também que acabe nunca mais escrevendo aqui; o que, embora eu ache improvável, também não posso dizer que é impossível. Eu posso até morrer antes disso né? Credo. 


Mas pode ser também que só volte a escrever daqui a uma cacetada de anos! O que acho que é o mais provável mesmo.


Vou dar um palpite: acho que vou acabar escrevendo mais uma ou duas coisas menores e meio aleatórias daqui a não tanto tempo. E ai vou sumir por anos hahaha. O bom é que não tem ninguém esperando por isso, agora. Ufa. É boa essa sensação, pra variar. Agora esse diário público finalmente é só meu. Ou não.


A internet é uma coisa louca. 


Por sinal eu fui criança, fui cursinheiro, fui ator (cara, eu mandava bem nessa brincadeira)(esse outro parênteses aqui é pra explicar pra você que tá lendo que eu realmente não achei que alguém algum dia iria encontrar esse texto aqui afundado nos escombros da internet, então deixa eu me gabar da minha atuação pra mim mesmo em paz, não tô querendo me aparecer pra ninguém, eu garanto hahaha). Ai então fui um fodido, que achava que queria concurso público, que achava que queria administração, que só achava mas no fundo só se afundava cada vez mais em uma vida que eu nunca, por nada, nem a pau eu ia querer pra mim. Que bom que eu fugi disso, eu ia morrer de depressão se continuasse naquele caminho de merda.


Depois fui fodido por mais um tempo, mas tentei fazer publicidade (e a grana acabou), tentei fazer psicologia (e o curso era péssimo), tentei dar aula de teatro (e consegui, difícil era me pagarem feito gente), tentei ser uber (e consegui, difícil era ser uber no meio da pandemia de Covid-19), tentei ser streammer (algumas semanas bastaram pra eu perceber que a última coisa que quero é trabalhar de palhaço de moleque bobo) e agora estou em mais uma tentativa.


A vida me ensinou a não espalhar aos 7 ventos nossos projetos do momento. Isso porque desistir INÚMERAS vezes é parte do jogo. Até encontrar o que realmente quer. E se você fala o que está fazendo você aumenta a expectativa dos outros em você mesmo, o que aumenta a sua expectativa em você mesmo, o que gera uma tensão absurdamente desnecessária (que vai te atrapalhar) além de muitas vezes acabar fazendo com que você fique naquela meta por mais tempo do que deveria, mesmo depois que percebe que na verdade aquela coisa não é A COISA e que o melhor seja desistir logo e ir pra próxima tentativa.


E embora eu ache que ninguém vai ler isso aqui, acredito que jogar na internet qual é a minha tentativa no momento se configuraria como "espalhar aos 7 ventos".


Mas hoje me parece tão óbvio que o que estou fazendo agora não poderia estar mais certo, considerando quem eu sou e sempre fui.


Daqui a alguns anos, quando eu lembrar novamente que esse blog existe, vou poder voltar aqui e lembrar desses pensamentos, e ver se era isso mesmo ou se foi só mais uma tentativa numa longa linha de tentativas.


Ou talvez eu morra antes. Não quero, é só uma hipótese.


Pessoas morreram, ou quase morreram nos últimos tempos.


Por isso a morte parece cada vez mais algo próximo.


Não tão próximo não. Só acho ainda um pouco chocante essa noção de que a morte realmente existe, acontece e tal. É estranho não é? Estamos aqui e de repente, puff. 


Credo.


Por enquanto, fim()

quarta-feira, 27 de março de 2019

Geração Why

Mimada, criada na ideologia do "faça o que vc ama e não terá que trabalhar um só dia", do "sua merda cheira rosas, vc é ótimo, vc merece" e do "arrisque! Vc não tem nada a perder!". Criada também no meio de uma infância e adolescência de prosperidade econômica seguida de uma crise profunda e longa que, em 2019, ainda não acabou.

Bem vindos à geração perdida! Os próprios pais, que já cansaram de apanhar da vida, foram rapidamente rendidos por seus subconscientes e, mais do que depressa, muniram-se de inúmeros argumentos para justificar seus métodos woodstockianos de criar os filhos. Reuniram todos em torno da ciência - a nova religião do século XXI, antes empírica, agora opinativa e simplificada até ter o sentido original modificado ou extinto para fácil assimilação em casos de twitter, argumento político ou coaching - e voilà!: surge a famosíssima "Geração Mimimi", baixada diretame da boa e velha ciência social e livremente interpretada e editada por aqueles que seguem tratando questões de divã com um delírio bipolar entre a ciência e a cientologia.

Há excessões entre os mimimis, é verdade. Afinal, nem só de merda se faz o esgoto. Vez ou outra cai um brinco de ouro puro em um ralo aqui ou acolá. Eu, outro merda em meio a uma maioria, tento entender como é que se faz para pegar o trêm em movimento dos idolatrados Millenials, amamentados enquanto jogavam Fruit Ninja, baixavam Minecraft em 3 plataformas diferentes, assistiam Galinha Pintadinha online, assobiavam, chupavam cana e giravam um Fidget Spinner.

Pois vamos aos fatos.

Conhecemos o mundo em um momento maravilhoso e cheio de oportunidades que se deu entre dois períodos de crise profunda, um verdadeiro oásis; nossos pais viveram o fim da guerra fria, o rock, o disco, o movimento hippie, aids, a ditadura militar, a redemocratização e o governo Collor (alguém imagina um grande número de mentes organizadas para instruir filhos saindo daí? Eu não. Não muitas); crescemos sem conhecer o celular e, de repente, ele surge e fica mais indispensável a cada semestre; sem internet e de repente ela deixa de ser discada e de ser opcional, além de invadir as casas até virar item de uso individual.

Em plena adolescência, subitamente tecnologia e crise sublimam o mundo lento e farto que aprendemos a girar e nos atira sem resiliência, sem experiência, sem parâmetros, sem dimensão da mudança sem precedentes que estava em curso e com muitos hormônios e ideias de grandeza e prosperidade.

Se alguém achou que não ia dar merda, errou. Errou e errou feio. Então querem chamar de geração mimimi? Be my guest. Mas não ache que sabe mais sobre vestir os meus sapatos do que eu. Se quer que respeitem os sapatos que te jogaram e vc teve que aprender a usar, aprenda a respeitar os dos outros.

Agora aos meus.

O mundo caiu bem na nossa vez. Fomos forçados a aprender sozinhos a nos adaptar ao maior número de coisas e com mais velocidade do que qualquer outra geração. As mudanças anteriores sempre levavam muito tempo. As atuais não param. Mas fomos nós que aprendemos a ler em papel e, sem nenhuma outra formação além do ensino fundamental ou médio, aprendemos antes de qualquer um como conversar pelo ICQ. Não tinhamos formações adicionais ou experiência de vida para ajudar na transição. Muito menos nascemos com telas nas mãos.

O mundo pausou bem na nossa vez. Colonização, império, escravidão, indústria, guerras, fria, ditadura, fim da guerra fria, país quebrou, pausa. Paz mundial, direitos humanos, prosperidade econômica, liberdade de expressão, liberdade (e eu aqui felizão jogando Magic sem nem saber o que era multitasking). Boom da tecnologia. Terrorismo, crise nacional, internacional, crise política, crise pessoal, interpessoal, transcendental, estagnação, desemprego, diplomas em liquidação, toneladas de lixo no mercado de trabalho, empresas demitindo a granel, sobrecarga de informação, desinformação. Se vc não morreu e não se matou acredite, vc se adaptou.

O mundo pausou, caiu e reapareceu a milhão, dando voltas justamente em vc, em mim, nos deixando completamente sem ação, travados, tontos, ansiosos, descrentes no mundo, no ser humano, em tudo que nos ensinaram para toda a vida e que tivemos que jogar fora e reaprender em anos ou meses.

E bem ou mal aqui estamos.

Reaprendemos uma parte. Deixamos escapar alguns zilhões de terabytes, e dai? Agora o mundo é assim mesmo. E se alguém viu ele mudar fomos nós. Se alguém teve a oportunidade de pensar essa mudança fomos nós. E se tem alguém, por tudo aquilo que viveu, capaz de ter humildade para aceitar que não sabe nada e aprender com os verdadeiros primeiros habitantes nascidos nesse novo mundo somos nós. E também a coragem de largar velhos tabus em política, gênero, família, religião, etc. Não há mal em não ser o que nunca tivemos chance de ser. Mas agora a temos.

Quem nasceu para o jogo não precisa de nada disso. Mas quem, assim como eu, não nasceu e ainda está à deriva pode, talvez, achar por aqui algum sentido em começar a se mover.

Mimimi SIM

Porque falar não exclui fazer. Porque em plena era da informação o choro é livre e não está sujeito a pena. Porque chega de tabus mantidos por não serem comentados. Porque chega de respeitar o mais velho que não te respeita. Chega. Porque o mimimi é a história da humanidade, só que agora exposta em um mural global. Porque o mundo não está certo e eu não vou colaborar para que ninguém durma conformado com isso, porque é a própria crítica que permite qualquer tipo de ação. Porque utopia só não é realidade para o velho de espírito. Ela é que move o mundo. Que tira corrente de escravo, que desimpede mulher de trabalhar, usar calça, votar. Que deixa gay ser gay. Irreal é aceitar a realidade. Irreal é achar que o mundo todo vai agir quietinho pra não incomodar o vovô.

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2019

Diário

O tempo parece que parou de passar. Parece e ainda assim perdem-se semanas, meses e anos de vista achando que aquele filme de 2010 estreou há uns dois ou três anos atrás. É meio que sentir na pele aquela coisa de que o tempo e o espaço são apenas ilusão. Mas só com o tempo. Ao mesmo tempo que vai indo embora sem a gente ver, parece tudo um grande mais do mesmo. Tanto que começa a nem parecer que é mais um "mesmo" quando ele acontece. De novo e de novo e de novo.

São 2019.

Dois mil e dezenove anos que um garoto cabeludo com sintomas de muito pretensioso ou muito desprendido veio à terra para nos dizer que o ano estava errado. "É galera, deu pau. Vou ter que resetar isso ai". Dito e feito. Só faltava agora conquistar boa parte do mundo e contar pra geral o que foi que o cabeludo andou dizendo. E hoje a velhinha da praça faz sinal da cruz quando vê o metaleiro cabeludo passando.

Cruz credo.

Um horário perdido, um plano que não deu certo, uma amizade perdida, uma nova volta no quarteirão em busca do sonho pelo qual disseram que todos têm que lutar. Assim como as unidades de tempo vão indo de uma em uma, até não dar mais pra contar. E não da. Mas sempre nos afeta. Me pergunto se as pessoas conseguem legitimamente ter sonhos espontâneos ou se é algum tipo de auto convencimento inconsciente que acontece em algum momento. E se não é tudo assim. Porque a verdade que tenho visto é que o quarteirão sempre da de volta na minha casa. Não sei bem qual é essa sensação de ter um sonho.

Me divertia, quando criança e um pouco depois, a ideia de ser taxista, ator, escritor, marinheiro, cantor, X-Men, bruxo e guerreiro medieval. Ainda falta virar X-Men, cantor, escritor e marinheiro. Dos que já virei, Uber paga pouco, ator não paga e guerreiro e bruxo sugam demasiado tempo e dinheiro se não controlarmos os impulsos no mundo virtual. Mas, de longe, foram minhas profissões mais plenamente satisfatórias.

Um sonho me parece algo bobo. Mas o que importa como me parecem as coisas? Sonhar talvez seja a resposta, afinal.

Será que daqui a dois mil anos haverá igrejas para louvar o messias Inri Cristo? Teria sido Jesus um empreendedor?

Tenho trinta anos há mais de três meses agora e continuo esperando o insight, a realização, o cair da ficha. Nada até agora. Parece que não vem. Sinto pequenas mudanças de julgamento nos anos que antecederam e que ainda continuam acontecendo, mas nada pontual ou marcante. Um tio muito querido morreu de câncer no ano passado. Agressivo e implacável. O que quer que se fizesse só piorava. Em um ano chegou e se foi e a mão ficou gelada na minha e não entendi. Dura. Minutos antes havia alguém preenchendo e gerando eletricidade, calor, movimento, afeto, esperança, risadas altas de puxar o coro no teatro e aversão a fofoca naquele objeto em processo de desligamento, lembrança de alguém que já existiu exposta ali.

Crianças entendem a morte? Crianças sonham, isso eu sei que sim. Acho que crianças entendem a morte. Não entendo ainda. Quanto mais penso e tento entender mais distante me parece essa morte que todos dizem. A mim a Morte parece boba como o Sonho. Ninguém morreu. Ninguém morre. Quando dizemos que morreu não tem ninguém ali. Ninguém está lá para executar a ação de morrer, portanto, não existe. Existe a pessoa viva. E ai ela não existe. E no meio disso talvez tenha um breve momento em que ela vai suavizando a sua existência. Seu ser vai sendo menos, menos até que não é. Parar não para. Só não é, já que quando não é não tem mais ninguém ali para parar de ser.

As pessoas não morrem. As pessoas suavizam. Lentamente desexistem. Emitem as últimas correntes elétricas e esboços de pensamento e consciência que já não transbordam. É um ato de instrospecção, de sentir os últimos estímulos do ambiente e das pessoas ao seu redor, cada vez mais suaves, cada vez mais duradouros. Os sentidos ganham mais distância do entorno para a consciência saborear mais, sentir com menos intensidade e por mais tempo, e mais tempo. Quem sabe tendendo ao infinito. E o que foi se apagando conserva uma onda infinita, suave e plena tudo aquilo que se sentiu.

Quem sabe não seja, afinal, muito mais pacífico e pleno - e simples - do que aquele tribunal superior de moral e ética que dizem nos esperar para o acerto final de contas.

Não é por menos que ligar para alguém hoje em dia é um ato profundamente invasivo. Escrever deixa tudo tão mais certo.


terça-feira, 17 de abril de 2018

To Endure(ça)

• Suportar
• Resistir
• Perdurar
• Enfrentar

"To endure" não é como suportar uma dor de dente, passivamente. Não é como enfrentar uma maratona. É mais que isso. É a atitude de suportar de forma ativa, não passiva. É a atitude de enfrentar mas com uma estrutura sólida, não destrambelhadamente.

"To endure" é como remar contra a correnteza. Ao mesmo tempo que é ação afirmativa, com um objetivo, com determinação, com persistência, com força e até mesmo com certa agressividade, é também "ser sólido", aguentar a dor, o cansaço, o desânimo, fincar os pés no fundo do rio e dizer "daqui eu não saio, daqui ninguém me tira".

"To endure" é afirmar-se no momento presente e não arredar o pé, não voltar atrás exceto pra tomar impulso e, ao mesmo tempo, seguir o curso que tem em mente, lutar pelos objetivos, sonhos, necessidades. É segurar o tranco e dar o tranco simultaneamente, é ser consistente, inabalável embora atingível.

"To endure" tem um significado que não tem um correspondente exato em português. "To endure" é ir com garra pra frente com uma sustentação sólida atrás.

"To endure" é o que a vida pede, é o que a vida é.

sexta-feira, 16 de março de 2018

Trinta, ânus.

Esse negócio de fazer 30 anos da uma sensação de sobrevivência. Parece que, agora, a gente realmente comprou a vida e não tem mais volta. Não é mais test drive, não é mais amostra grátis e não é mais tutorial. Agora fodeu e fodeu com força.

Da mesma forma, também da uma sensação de que a vida acabou. Sim, porque se você parar pra pensar, muita gente viveu menos que isso ou fez valer o seu legado antes de chegar a essa idade. Da uma sensação de que agora foda-se, eu já vivi a minha vida toda e o que vier agora é lucro. Fora que, a essa altura, não parece que tenha muito mais que acontecer. Os lugares mudam, as pessoas mudam, mas a porra da rotina é uma constante. A gente corre atrás do próprio rabo em busca de respeito, em busca de uma vida boa, em busca de uma mente tranquila e hora a gente consegue hora a vida te da um caldo de engolir areia pela boca e pelo cu.

Por mais contráditorias que sejam, essas duas conclusões juntas fazem uma confusão interessante na cabeça da gente. Não vou dizer boa, porque, afinal, sei lá eu que porra que eu faço agora com a minha vida. Mas não é como se algum dia eu tivesse sabido, então tá tudo certo.

Da vontade de jogar fora velhas vontades, hábitos, manias e passar a ser o criador ativo dessa pós vida que se segue. Ao mesmo tempo que da um saco cheio de ter que continuar nessa caralha, dia após dia pensando, planejanto, repensando, errando e, eventualmente, acertando. Mas, talvez a sensação mais forte seja que, se eu cheguei até aqui, não é qualquer peidinho que vai me matar. Embora talvez mate. E enquanto quero que mate, também sinto-me mais livre ao saber que, possivelmente, não matará. E, afinal, se matar, já foram 30, não é mesmo?

O amanhã espera, as responsabilidades cobram, implacáveis como uma segunda feira. Não só não tarda como vem. E a gente tenta alongar a noite pra aumentar a vida vivida, e no dia seguinte se chinga quando toca o despertador por não ter ido dormir mais cedo pra, no dia seguinte, estar bem e acordado durante o tempo em que a nossa vida não nos pertence, em que lutamos pra agradar, para servir às expectativas, para não atrasar, para não fazer muita cagada, para tentar roubar alguns minutos do patrão para viver um pouquinho mais da própria vida que de dia congela e espera chegar a noite pra voltar a ser.

Será que vai ser sempre um esforço para tentar converter as horas do dia no máximo de vida vivida possível. Em vida minha? Mas que foda pensar nisso. Que coisa horrível perceber que estamos aqui e pouco importa, porque o tempo em que de fato estamos aqui é o menor possível. É talvez 3, 4 ou no máximo 5 horas por dia, por 24 horas. Puta que pariu!

Bom, são esses os 30. É a coragem para enfim se apropriar da vida mas o cagaço de perder o emprego e não ter do que viver. É a vontade de tomar a própria vida pelas mãos mas saber que, de vida mesmo, pouco tempo sobra. É a realidade bruta e escancarada tirando a vontade, que, nem por isso, é tirada. É contradição mesmo, nua e crua, do jeitinho que a vida é.

minúsculo com M de Maiúsculo

Parece que o caminho que a vida toma é pegar todo o M de Maiúsculo e comprimir em minúsculo para que caiba mais, mantenha-se o padrão – que seria afetado ao aceitar um gigantesco e destoante M no lugar que poderia ser eficientemente ocupado por um m - e não incomode.

valor com V de Valor


As pessoas se tornam interessantes na medida em que se mostram complexas.
               
Não complicadas. Complexas.

Mas a sobrevivência em sociedade exige das pessoas que não se demonstrem complexas no dia a dia, mas que ponham em primeiro plano sua parte rasa, que por sua vez é sempre mais leve, sociável, prática e produtiva.

Por isso me interessam teatro, filosofia, psicologia e álcool. Nestes lugares onde não se produz valor é que acontecem as coisas realmente valiosas.

adulto com A de Adulto


                Eu olhava os adultos de baixo pra cima e aquilo me era incompreensível. Eram pessoas que mandavam nos outros, controlavam as próprias vidas e mandavam em si. Eles sabiam o que fazer a cada hora, em toda situação e como fazer e o que usar. Tinham sempre as respostas, conheciam todas as palavras, entendiam todas as piadas, sabiam usar e controlar todas as coisas da forma correta. Exceto, talvez, o controle remoto, que naquele tempo era o mais próximo do nosso smart phone. Suas coisas eram arrumadas, eles tinham o que precisavam e, se não tinham, sabiam sempre onde encontrar e compravam nem antes nem depois, mas no momento exato em que o artigo se fazia necessário. Eles, os adultos, eram a base sólida, o alicerce, o casco do navio, o chão, a certeza.

                Enquanto eu, criança, adolescente, jovem, adultescente, adulto, era sempre uma folha ao vento. Parecia que não chegava nunca aquela mutação na qual um casulo transformaria o meu adulto no adulto deles. Pelo contrário, parecia é que a mutação do adulto deles estava sendo revertida, transformando-os pouco a pouco em toda a incerteza, inconstância e insegurança do meu adulto falho, que chegou à idade para tal mas que, aparentemente, não desenvolveu nem um milésimo dos requisitos necessários.

                O adulto morreu. Não havia mais tal figura. Existiam pessoas e anos. Existem pessoas e anos. E os anos passam pelas pessoas, que em vão os tentam acompanhar. As pessoas ficamos presos a um único eu que é outro a cada segundo e, precisamente por isso, nunca mudam. São um constante estado de transição desordenada e caótica que, por maior que seja o esforço e o talento, no máximo tangenciam aleatoriamente e por todos os lados o rumo que procuramos dar aos nossos dias.

                O programa do Jô se mostrou finito, a Derci mortal, os Estados Unidos atingíveis, a Europa abalável, a democracia contestável e a moral precificável, enquanto a adultez por sua vez seguia vertiginosamente na contramão, mostrando-se talvez a única de fato inalcançável.

                Caíram portos seguros, referências e ídolos, transformando o mundo todo em um enorme buraco negro assustadoramente imbatível e inescapável dentro do qual deveríamos triunfar ou morrer tentando. Vimo-nos obrigados a interpretar segurança, exalar certeza, engolir conhecimento, emular felicidade, incorporar tabus, castigar fraqueza, reprimir sentimentos e sepultar utopias de forma que todos à nossa volta não vejam outra coisa em nós senão adultos inteiramente metamorfoseados com êxito.

                Todos, exceto nós mesmos.

quinta-feira, 15 de março de 2018

Uma porção de Revolução à milanesa, por gentileza...

- Uma falta de vergonha na cara! nem bem cheguei e a polícia já havia prendido vários manifestantes e dado de cacetete em outra boa parte. corri pra ajudar o que estava mais perto de mim, no chão, apanhando feito um cachorro vira lata que foi fuçar onde não devia. quando pensei em levantar o braço eu já estava no chão, apanhando em solidariedade ao meu colega.

- Corta! Muito bom, por hoje chega. Que tal uns sushis pra fechar a noite?

- Fechado, mas hoje é por minha conta.

Padrão

, é tudo um padrão. uma enterna espiral. Todos sabem tudo, de fato. basta saber onde procurar.

Religião

Minha fé está em tudo aquilo que pode me matar se me atingir na cabeça a 120Km/h