sexta-feira, 16 de março de 2018

Trinta, ânus.

Esse negócio de fazer 30 anos da uma sensação de sobrevivência. Parece que, agora, a gente realmente comprou a vida e não tem mais volta. Não é mais test drive, não é mais amostra grátis e não é mais tutorial. Agora fodeu e fodeu com força.

Da mesma forma, também da uma sensação de que a vida acabou. Sim, porque se você parar pra pensar, muita gente viveu menos que isso ou fez valer o seu legado antes de chegar a essa idade. Da uma sensação de que agora foda-se, eu já vivi a minha vida toda e o que vier agora é lucro. Fora que, a essa altura, não parece que tenha muito mais que acontecer. Os lugares mudam, as pessoas mudam, mas a porra da rotina é uma constante. A gente corre atrás do próprio rabo em busca de respeito, em busca de uma vida boa, em busca de uma mente tranquila e hora a gente consegue hora a vida te da um caldo de engolir areia pela boca e pelo cu.

Por mais contráditorias que sejam, essas duas conclusões juntas fazem uma confusão interessante na cabeça da gente. Não vou dizer boa, porque, afinal, sei lá eu que porra que eu faço agora com a minha vida. Mas não é como se algum dia eu tivesse sabido, então tá tudo certo.

Da vontade de jogar fora velhas vontades, hábitos, manias e passar a ser o criador ativo dessa pós vida que se segue. Ao mesmo tempo que da um saco cheio de ter que continuar nessa caralha, dia após dia pensando, planejanto, repensando, errando e, eventualmente, acertando. Mas, talvez a sensação mais forte seja que, se eu cheguei até aqui, não é qualquer peidinho que vai me matar. Embora talvez mate. E enquanto quero que mate, também sinto-me mais livre ao saber que, possivelmente, não matará. E, afinal, se matar, já foram 30, não é mesmo?

O amanhã espera, as responsabilidades cobram, implacáveis como uma segunda feira. Não só não tarda como vem. E a gente tenta alongar a noite pra aumentar a vida vivida, e no dia seguinte se chinga quando toca o despertador por não ter ido dormir mais cedo pra, no dia seguinte, estar bem e acordado durante o tempo em que a nossa vida não nos pertence, em que lutamos pra agradar, para servir às expectativas, para não atrasar, para não fazer muita cagada, para tentar roubar alguns minutos do patrão para viver um pouquinho mais da própria vida que de dia congela e espera chegar a noite pra voltar a ser.

Será que vai ser sempre um esforço para tentar converter as horas do dia no máximo de vida vivida possível. Em vida minha? Mas que foda pensar nisso. Que coisa horrível perceber que estamos aqui e pouco importa, porque o tempo em que de fato estamos aqui é o menor possível. É talvez 3, 4 ou no máximo 5 horas por dia, por 24 horas. Puta que pariu!

Bom, são esses os 30. É a coragem para enfim se apropriar da vida mas o cagaço de perder o emprego e não ter do que viver. É a vontade de tomar a própria vida pelas mãos mas saber que, de vida mesmo, pouco tempo sobra. É a realidade bruta e escancarada tirando a vontade, que, nem por isso, é tirada. É contradição mesmo, nua e crua, do jeitinho que a vida é.

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