Eu
olhava os adultos de baixo pra cima e aquilo me era incompreensível. Eram
pessoas que mandavam nos outros, controlavam as próprias vidas e mandavam em si.
Eles sabiam o que fazer a cada hora, em toda situação e como fazer e o que
usar. Tinham sempre as respostas, conheciam todas as palavras, entendiam todas
as piadas, sabiam usar e controlar todas as coisas da forma correta. Exceto,
talvez, o controle remoto, que naquele tempo era o mais próximo do nosso smart
phone. Suas coisas eram arrumadas, eles tinham o que precisavam e, se não
tinham, sabiam sempre onde encontrar e compravam nem antes nem depois, mas no
momento exato em que o artigo se fazia necessário. Eles, os adultos, eram a
base sólida, o alicerce, o casco do navio, o chão, a certeza.
Enquanto
eu, criança, adolescente, jovem, adultescente, adulto, era sempre uma folha ao
vento. Parecia que não chegava nunca aquela mutação na qual um casulo
transformaria o meu adulto no adulto deles. Pelo contrário, parecia é que a
mutação do adulto deles estava sendo revertida, transformando-os pouco a pouco
em toda a incerteza, inconstância e insegurança do meu adulto falho, que chegou
à idade para tal mas que, aparentemente, não desenvolveu nem um milésimo dos
requisitos necessários.
O
adulto morreu. Não havia mais tal figura. Existiam pessoas e anos. Existem
pessoas e anos. E os anos passam pelas pessoas, que em vão os tentam acompanhar.
As pessoas ficamos presos a um único eu que é outro a cada segundo e, precisamente
por isso, nunca mudam. São um constante estado de transição desordenada e
caótica que, por maior que seja o esforço e o talento, no máximo tangenciam
aleatoriamente e por todos os lados o rumo que procuramos dar aos nossos dias.
O
programa do Jô se mostrou finito, a Derci mortal, os Estados Unidos atingíveis,
a Europa abalável, a democracia contestável e a moral precificável, enquanto a
adultez por sua vez seguia vertiginosamente na contramão, mostrando-se talvez a
única de fato inalcançável.
Caíram portos
seguros, referências e ídolos, transformando o mundo todo em um enorme buraco
negro assustadoramente imbatível e inescapável dentro do qual deveríamos triunfar
ou morrer tentando. Vimo-nos obrigados a interpretar segurança, exalar certeza,
engolir conhecimento, emular felicidade, incorporar tabus, castigar fraqueza,
reprimir sentimentos e sepultar utopias de forma que todos à nossa volta não
vejam outra coisa em nós senão adultos inteiramente metamorfoseados com êxito.
Todos,
exceto nós mesmos.
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