quinta-feira, 15 de março de 2018

Vai Brasil!

Toda a rotina é de subito interrompida. Os meios de transporte de toda a cidade ficam superlotados. Os caminhos que as pessoas fazem de costume não são mais válidos, hoje nenhum fluxo humano é totalmente previsível. Os engarrafamentos se sustentam por pouco tempo devido aos fluxos variados.

...

Os pontos de ônibus se esvaziam. Os metrôs esvaziam. As ruas. Olho pela janela e não vejo de onde vem nenhum dos sons que ouço. Todos os grupos já estão concentrados em seus destinos.

Em alguns minutos todo um país vai parar para torcer pela publicidade, pela globalização, pela aculturação, pelo turismo sexual, pelo pão e pelo circo, pela concentração do capital nas chuteiras dos jogadores e nas pastas dos políticos e dos empresários.

Todos nós vamos apoiar o símbolo nacional de adesão à modernidade. São os nossos vanguardistas! Todos vamos gritar a cada gol, a cada milhão adicionado às chuteiras dos nossos iguais, a cada milhão a mais que morre de fome por conta disso.

E quando ganharmos mais um troféu vamos todos ao delírio. Viva o crescimento do turismo, da concentração do capital e do aumento do abismo entre iguais! Viva a "cultura" do futebol e do samba! Viva o fazer sem pensar! Viva a geração moldada para servir ao sistema e para sentir prazer com aquisições inúteis! Viva os teatros vazios! Viva o país de analfabetos funcionais! Viva o ideal de democracia que nos obriga a dar ouvidos a toda e qualquer asneira que nossos líderes inventam para despistar a revolta do povo! Viva a domesticação da revolta do povo!

A cidade me lembra um filme de zumbis.

Começa o jogo.

Um comentário:

  1. A primeira coisa que se ensina em alguns cursos de psicologia é não aplicar a psicologia a sí mesmo, se não enlouqueceríamos. Querendo ou não somos fruto de uma sociedade. O primeiro passo é perceber as contradições às quais estamos submetidos. Mas se passarmos todo o tempo a nos julgar com base nelas, não vivemos. Então sim, é provável que hoje eu torça pelo Brasil. Mas o fato de perceber o que está errado nos da a oportunidade de um dia, talvez, sentir asco por algumas práticas. E ai mudaremos o comportamento naturalmente. Ou não.

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